A
história da informática educativa no Brasil
O Brasil
iniciou a busca de um caminho para informatizar a educação (Andrade &
Albuquerque Lima, 1993) em 1971, quando pela primeira vez se discutiu o uso de
computadores no ensino de Física (USP/São Carlos). Em 1973, algumas
experiências começaram a ser desenvolvidas em outras universidades, usando
computadores de grande porte como recurso auxiliar do professor para ensino e
avaliação em Química (Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) e
desenvolvimento de software educativo na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul - UFRGS.
Destacam-se,
ainda, nos anos 70, as experiências do Laboratório de Estudos Cognitivos do
Instituto de Psicologia - LEC, da UFRGS, apoiadas nas teorias de Piaget e
Papert, com público-alvo de crianças com dificuldades de aprendizagem de
leitura, escrita e cálculo.
A Universidade
Estadual de Campinas - UNICAMP, em 1975, iniciou cooperação técnica - ainda
existente - com o Media Lab LAB do Massachussets Institute of Technology - MIT,
criando um grupo interdisciplinar para pesquisar o uso de computadores com
linguagem LOGO na educação de crianças.
A cultura
nacional de informática na educação teve início nos anos 80, a partir dos
resultados de dois seminários internacionais (1981 e 1982) sobre o uso do
computador como ferramenta auxiliar do processo de ensino-aprendizagem.
Surgiu, em tais
seminários, a idéia de implantar projetos-piloto em universidades, o que
originou, em 1984, o Projeto EDUCOM, iniciativa conjunta do MEC, Conselho
Nacional de Pesquisas - CNPq, Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP e
Secretaria Especial de Informática da Presidência da República - SEI/PR,
voltada para a criação de núcleos interdisciplinares de pesquisa e formação de
recursos humanos nas universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), do
Rio de Janeiro (UFRJ), Pernambuco (UFPE), Minas Gerais (UFMG) e na Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP). Apesar de dificuldades financeiras, este
projeto foi o marco principal do processo de geração de base científica e
formulação da política nacional de informática educativa.
Considerando os
resultados do Projeto EDUCOM, o MEC criou, em 1986, o Programa de Ação Imediata
em Informática na Educação de 1o e 2o grau, destinado a capacitar professores
(Projeto FORMAR) e a implantar infraestruturas de suporte nas secretarias
estaduais de educação (Centros de Informática Aplicada à Educação de 1o e 2o
grau - CIED), escolas técnicas federais (Centros de Informática na Educação
Tecnológica - CIET) e universidades (Centro de Informática na Educação Superior
- CIES). Competia a cada secretaria de educação e a cada instituição de ensino
técnico e/ou superior definir pedagogicamente sua proposta.
Foram
implantados em vários estados da Federação 17 CIEDs (1988-89), nos quais grupos
interdisciplinares de educadores, técnicos e especialistas trabalhavam com
programas computacionais de uso/aplicação de informática educativa. Esses
centros atendiam a alunos e professores de 1o e 2o grau e à comunidade em geral
e foram irradiadores e multiplicadores da telemática na rede pública de ensino.
A Organização
dos Estados Americanos - OEA, em 1988, convidou o MEC para valiar o projeto de
Informática Aplicada à Educação Básica do México. Isso fez o MEC e a OEA
formularem um projeto multinacional de cooperação técnica e financeira,
integrado por oito países americanos, que vigorou entre 1990 e 1995.
A sólida base teórica
sobre informática educativa no Brasil existente em 1989 possibilitou ao MEC
instituir através da Portaria Ministerial n. 549/89, o Programa Nacional de
Informática na Educação - PRONINFE, com o objetivo de “desenvolver a
informática educativa no Brasil, através de atividades e projetos articulados e
convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica, sólida e atualizada, de
modo a assegurar a unidade política, técnica e científica imprescindível ao
êxito dos esforços e investimentos envolvidos.”
Apoiado em
dispositivos constitucionais relativos à educação, ciência e tecnologia, o
PRONINFE visava: promover o desenvolvimento da informática educativa e seu uso
nos sistemas públicos de ensino (1o , 2o e 3o grau e educação especial);
fomentar o surgimento de infraestrutura de suporte nas escolas, apoiando a
criação de centros, subcentros e laboratório; capacitar contínua e
permanentemente professores. O Programa previa crescimento gradual da
competência tecnológica referenciada e controlada por objetivos educacionais,
amparado num modelo de planejamento participativo que envolvia as comunidades
interessadas. Os objetivos e metas do PRONINFE foram formulados em sintonia com
a política nacional de ciência e tecnologia da época.
O PRONINFE
apresentou os seguintes resultados no período de 1980 - 1995:
·
44
centros de informática na educação implantados, a maioria interligada na
Internet.
·
400
subcentros implantados, a maioria por iniciativas de governos estaduais e
municipais, a partir do modelo de planejamento concebido, inicialmente, pelo
Projeto EDUCOM/UFRGS (destes, 87 estão no Estado do Rio Grande do Sul).
·
400
laboratórios de informática educativa em escolas públicas, financiados por
governos estaduais e municipais.
·
mais
de 10.000 profissionais preparados para trabalhar em informática educativa no
país, incluindo um número razoável de pesquisadores com cursos de mestrado e
doutorado.
O PRONINFE,
apesar de dificuldades orçamentárias, gerou, em dez anos, uma cultura nacional
de informática educativa centrada na realidade da escola pública. Ele
constituiu o principal referencial das ações atualmente planejadas pelo MEC:
correspondeu, praticamente a uma fase piloto que durou mais de uma década.
São também
ações importantes: implantação de 50 centros de informática em São Paulo, com
recursos do governo municipal (1987/1988); ainda na capital paulista, em 1996,
introdução de vigoroso programa de informatização de escolas (10.000
computadores); em 1997 serão instalados mais de 400 laboratórios nas escolas
públicas do Estado de São Paulo, num trabalho orientado pelo Núcleo de
Informática Educativa - NIED da UNICAMP, que também coordena a implantação de
laboratórios em todos os colégios militares do País e a formação de mais de
1.000 professores dessas instituições.
Na década de 70, o Brasil iniciava os seus primeiros passos em busca de um
caminho próprio para a informatização de sua sociedade, fundamentado na crença
de que tecnologia não se compra, mas é criada e construída por pessoas.
Buscava-se construir uma base que garantisse uma real capacitação nacional nas
atividades de informática, em benefício do desenvolvimento social, político,
tecnológico e econômico da sociedade brasileira.
Uma capacitação que garantisse autonomia tecnológica, tendo como base a
preservação da soberania nacional.
Na busca de maior garantia de segurança e desenvolvimento da nação, o Brasil
estabeleceu políticas públicas voltadas para a construção de uma indústria
própria. Tais políticas condicionaram a adoção de medidas protecionistas
adotadas pela área.
Desta forma o
Governo Brasileiro deu origem à SEI - Secretaria Especial de Informática, que
nasceu como órgão executivo do Conselho de Segurança Nacional da Presidência da
República, em plena época da ditadura militar.
Este órgão tinha por finalidade regulamentar, supervisionar e fomentar o
desenvolvimento e a transição tecnológica do setor.
Com a criação da SEI, como órgão responsável pela coordenação e execução da
Política Nacional de Informática, buscava-se fomentar e estimular a
informatização da sociedade brasileira, voltada para a capacitação científica e
tecnológica capaz de promover a autonomia nacional, baseada em princípios e
diretrizes fundamentados na realidade brasileira e decorrente das atividades de
pesquisas e da consolidação da indústria nacional.
Entretanto, para o alcance de seus objetivos seria preciso estender as
aplicações da informática aos diversos setores e atividades da sociedade, no
sentido de examinar as diversas possibilidades de parceria e solução aos
problemas nas diversas áreas: educação, energia, saúde, agricultura, cultura e
defesa nacional.
Participação do
MEC
Assim, o Ministério da Educação tomou a dianteira do processo, acreditando que
o equacionamento adequado da relação informática e educação seria uma das
condições importantes para o alcance do processo de informatização da sociedade
brasileira.
A partir desta visão, em 1982, o MEC assumiu o compromisso para a criação de
instrumentos e mecanismos necessários que possibilitassem o desenvolvimento de
estudos e o encaminhamento da questão, colocando-se à disposição para
implementação de projetos que permitissem o desenvolvimento das primeiras
investigações na área.
I Seminário
Nacional de Informática na Educação – 1981 / UNB
Foi criada uma equipe intersetorial com a participação de representantes da
SEI, MEC, CNPq e FINEP, visando o planejamento das primeiras ações na área.
Como prioritário essa equipe percebeu a necessidade de uma consulta permanente
à comunidade técnico-científica nacional, para discutir estratégias de
planejamento que refletissem as preocupações e o interesse da comunidade
nacional.
Objetivo: discutir as possibilidades de utilização do computador no processo
ensino-aprendizagem, enfocando aspectos teóricos e a aplicabilidade em todos os
níveis de ensino
Pontos:
Deste seminário
surgiram várias recomendações norteadoras do movimento e que até hoje continuam
influenciando a condução de políticas públicas na área.
Que as
atividades de Informática na Educação fossem balizadas por valores culturais,
sócio-políticos e pedagógicos da realidade brasileira.
Que os aspectos
técnico-econômicos sejam equacionados não em função das pressões de mercado,
mas dos benefícios sócio educacionais.
Preservação das
funções do professor: Que o computador seja considerado como um meio de
ampliação das funções do professor e jamais para substituí-lo.
Atenção para
que a política na área fortaleça e apoie a indústria nacional de Informática
Criação de
projetos-piloto de caráter experimental com implantação limitada, objetivando a
realização de pesquisa sobre a utilização da Informática no processo
educacional.
II Seminário
Nacional de Informática na Educação – 1982 / UFBA
Tema Central: O impacto do computador no processo educacional brasileiro ao
nível de 2º grau.
Objetivos: Coletar subsídios para a criação de centros-piloto, a partir de
reflexões de especialistas das áreas de Educação, Psicologia, Informática e
Sociologia.
Recomendações:
Que os núcleos
de pesquisa fossem vinculados às universidades, com caráter interdisciplinar.
Que os
computadores fossem um meio auxiliar do processo educacional, devendo se
submeter aos fins da educação e não determiná-los.
As aplicações
em Informática na educação não deveriam ser restritas ao 2º grau, de acordo com
a proposta inicial do Governo Federal.
A priorização
da formação de professor quanto aos aspectos teóricos, participação em
pesquisas e experimentação, além do envolvimento com a tecnologia do computador.
REFERÊNCIAS
Andrade, P.F. (1996); Programa Nacional de
Informática Educativa. A utilização da Informática na escola pública brasileira.
(1970-2004); MEC: Secretaria de Educação a Distância.
TAJRA, S.F. Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas para o
professor da atualidade. Ed. Érica, São Paulo, 2001.
LUCENA, M. Uma análise da atualidade da Informática na Educação no Brasil: o
caso do município do Rio de Janeiro
MORAES, M.C. Informática Educativa no Brasil: um pouco de História, em aberto,
ano 12, n 57, 1993
PROJETO PROINFO disponível em ww.proinfo.gov.br